domingo, 18 de outubro de 2009

Personagem em foco


Velhas estradas, novos rumos
A coragem de um homem ao enfrentar as limitações impostas por um grave problema de saúde
Entre as várias lembranças que vagam pela memória de Wilson, há uma que pulsa mais forte. Nela, ele está dentro de seu caminhão, com um sorriso estampado na face e, ao fundo, uma paisagem que compunha um belo cenário. E essa mesma descrição se aplicaria perfeitamente para traduzir a vida que levava como caminhoneiro. Estradas, sorrisos, dias (ou noites) lindos e paisagens que se transformavam a cada quilômetro rodado. Para ele, que atesta uma necessidade de viver algo novo todos os dias, aquela era a vida perfeita.
Wilson Orane Maibuk sempre gostou de viajar a noite ou com chuva. As estrelas sob o céu vasto e os raios que via durante os temporais eram, para ele, o que havia de mais bonito na natureza. No entanto, Wilson não esperava que a maior das tempestades viria silenciosa e determinante a tudo que ele seria dali para frente. Um acidente vascular cerebral (AVC) ocorrido enquanto dormia, paralisou o lado esquerdo de seu corpo e o obrigou a se afastar do que mais dava sentido à sua vida: dirigir seu caminhão por todo país. Mesmo assim, seis anos mais tarde, o homem que hoje conta com 43 anos de idade, não desistiu de procurar novas estradas que dessem um novo sentido a sua existência.

Entre números, energia e rodovias

A paixão pela vida de caminhoneiro foi aquele típico sentimento passado de pai para filho. Wilson fala de seu pai, Henrique, que faleceu seis meses após o acidente, com muito orgulho e saudade. “Foi meu pai quem me ensinou a ser tudo que sou hoje. Ele sempre me dizia para nunca investir em uma coisa só e que era bom ter várias opções de caminhos a seguir”, lembra. E isto foi, de fato, algo que Wilson sempre fez. Antes de decidir seguir a mesma carreira do pai, ele se formou em ciências contábeis. Só que com o tempo os números se tornaram muito cansativos. Na busca de algo que o proporcionasse prazer ao trabalhar, resolveu fazer cursos de eletrônica. Passou um bom tempo trabalhando com isso; consertava uma TV aqui, um rádio ali, mas definitivamente tudo aquilo era monótono demais para seu espírito aventureiro.
Quando adolescente, costumava dirigir o caminhão do seu Henrique pela cidade, só para se divertir. Wilson gostava mesmo disso. Por essa razão, mais tarde, descontente com sua vida profissional e a fim de buscar o que realmente queria, pediu um caminhão de presente para o pai. Seu desejo foi atendido. A partir de então, ele descobriu, entre as rodovias, sua verdadeira paixão: viajar. “Nunca gostei de ficar parado em um lugar só. A cada viagem era uma história diferente, eu me sentia realizado”, afirma.
No começo transportava carga de Malte, somente dentro do Paraná. Mais tarde, na medida em que foi adquirindo experiência e credibilidade, começou a viajar por vários cantos do país. Seu lugar preferido era Goiás, tanto que pouco antes de sofrer o AVC, estava com planos de se mudar para lá. E foi justamente neste local que aconteceu o acidente que mudou sua vida.

Do dia para noite

A pressão alta sempre foi um problema sério para Wilson. Ele tomava medicamentos regularmente, mas os altos e baixos das serras não faziam nada bem à sua saúde. Ao mesmo tempo, abandonar as viagens por conta deste problema estava fora de cogitação. Por isso, ele poderia sofrer algo grave a qualquer momento, mas não se preocupava com isso.
Em uma viagem do Paraná ao Nordeste, lugar que sempre sonhou conhecer, notou que sua perna esquerda estava levemente adormecida. No entanto, julgou ser alguma coisa passageira. Mesmo assim, resolveu parar num posto de saúde da primeira cidade que encontrou e checar suas condições físicas. Porém, o posto estava muito cheio e, sem paciência para esperar, decidiu seguir viagem. Para melhorar, tomou três tipos de medicamento e um café bem forte, o que poderia ser letal naquele momento. Quando chegou em Goiás, decidiu ficar por ali mesmo ao invés de seguir viagem até o Nordeste. “Eu achava que o caminhão estava balançando, mas na verdade era eu que estava tonto. Mas ainda achava que era tudo normal”, comenta.
Ao chegar em Rio Verde, um distrito de Goiás onde conhecia vários amigos, já se encontrava bastante debilitado. Quando Wilson foi estacionar o seu caminhão para dormir, acabou batendo num outro que estava na frente. Então, como estava falando “enrolado” em função do problema, seus companheiros acabaram supondo que ele estava bêbado e o aconselharam a dormir. Foi o que Wilson fez.
Na manhã seguinte, ao acordar, percebeu que o lado esquerdo do seu corpo estava completamente paralisado. Ele não conseguia sequer ficar em pé. Quando um amigo percebeu a situação, imediatamente o encaminhou até um hospital em Goiânia, que tinha estrutura para atendê-lo. Foi constatado que uma artéria do pescoço de Wilson havia se rompido, o que ocasionou um acidente vascular cerebral. Permaneceu 15 dias na UTI até que pudesse voltar para sua casa, em Guarapuava. Até então, o caminhoneiro ainda não sabia que jamais poderia voltar a dirigir novamente. Uma noite de sono foi capaz de mudar completamente o rumo de sua vida a partir dali.

Um novo caminho

Quando chegou em casa, Wilson precisou ficar em uma cadeira de rodas. Para ele, entre tudo que passou, esta foi a parte mais traumática. Sair do assento do seu caminhão para ficar ali, impossibilitado, era algo inaceitável. Mesmo com o apoio integral da mãe, Zilda, e dos irmãos, Luciano e Cícero, ele sentia que precisava tomar alguma atitude e mudar aquela situação. “Logo no primeiro mês eu tentei sair da cadeira de rodas e sentar no sofá sozinho, mas acabei caindo. Este foi meu primeiro tombo. A partir de então não tive mais medo de cair”, ressalta.
Wilson logo começou a fazer fisioterapia e sempre mostrava uma vontade admirável de progredir. Este sentimento ajudava muito mais do que as sessões fisioterápicas. Dois meses depois de sofrer o AVC já estava livre da cadeira de rodas. Pouco tempo depois, foi embora para Santa Catarina, morar com o irmão e começar uma nova etapa da sua vida: uma faculdade de Direito.
A ideia surgiu, primeiramente, por interesse pessoal em uma causa judiciária. Wilson tinha uma filha com sua ex-mulher, mas quase nunca podia ver a menina. A mãe restringia muito as visitas; ele chegava a passar meses sem vê-la. Na procura de um advogado para exercer seus direitos como pai, encontrou apenas profissionais de má vontade. Então, decidiu começar o curso de Direto para que pudesse, por conta própria, tomar alguma atitude. A filha, de apenas sete anos de idade, é a maior motivação de Wilson diante de todas as dificuldades que encontrou pelo caminho. Ele pretende ensinar tudo que aprendeu para a menina.
Entretanto, no decorrer do curso, o ex-caminhoneiro e atual estudante de Direito, acabou se apaixonando pela advocacia. “Quero trabalhar com Direito previdenciário, porque é uma área que poucos se interessam. Sempre gostei de ajudar as pessoas e esta é uma forma de eu fazer isso”, afirma.
Há dois anos ele pediu transferência do curso e está estudando uma faculdade em Guarapuava, para ficar perto da mãe. Hoje, faltando pouco tempo para concluir, admite estar muito ansioso para viver essa nova fase. Afinal, mudar o rumo da viagem nunca foi problema para Wilson.

Muita coisa mudou na vida do futuro advogado desde que sofreu o acidente. Ele ainda anda com certa dificuldade, já que os movimentos dos membros do lado esquerdo de seu corpo ainda são limitados. Mas apesar de tantas transformações, ele comenta, orgulhoso, de algo em sua essência que permaneceu intacto: “minha vida e meus planos mudam muito, mas eu sempre fui muito sonhador e persistente. Isto nunca mudou em mim”.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Comunicação

O império da voz
Há mais de cinco décadas, no auge de sua difusão, o rádio contava com uma estrutura peculiar e exercia um papel importante para a sociedade guarapuavana

Sobre sua base ergueram-se estruturas muito mais complexas de comunicação. Ao som cru foi adicionada a imagem que glorificava a televisão. O tempo passou, a tecnologia evoluiu e o rádio acabou se tornando um veículo ultrapassado, principalmente para as novas gerações. No entanto, já diria o ditado que “quem é rei nunca perde a majestade”. Pelo menos para aqueles que presenciaram o seu auge, aproximadamente entre as décadas de 1930 e 1960, o aparelho de rádio ainda é peça primordial dentro de suas residências.
No Brasil, o rádio teve início em meados da década de 1920. No entanto, em Guarapuava a primeira emissora radiofônica só foi fundada quase 30 anos mais tarde. Seu nome era Rádio Difusora de Guarapuava, ZYP4, 1590 kilociclos, AM. Embora não permanecesse 24 horas no ar, tinha programas variados que satisfaziam os interesses desde crianças até pessoas mais velhas. O sucesso era tanto que muitos estabelecimentos comerciais deixavam o aparelho ligado, com volume considerável, para atrair a clientela. Já os locutores eram considerados ícones para os guarapuavanos da época, dignos de autógrafos, caso fossem reconhecidos por seus ouvintes na rua.
O rádio era, também, um instrumento de utilidade pública. As mensagens dos ouvintes ligavam a cidade com o interior e o restante da região. Havia uma comunicação entre parentes, amigos ou toda uma comunidade. O relacionamento da rádio com os ouvintes consistia num mecanismo importante para a sociedade da época.

No ar, a difusão
Fundada em 1947, a Rádio Difusora de Guarapuava foi um marco para a comunicação para todas as localidades que atingia. Segundo Renato Küster, um dos fundadores e diretor da rádio na época, seu surgimento foi resultado, em um primeiro momento, de ideais políticos, já que a equipe fundadora era amiga do então candidato a prefeito da cidade, Sebastião Loures Bastos. No entanto, apesar desta “forcinha”, ele não venceu as eleições daquele ano.
Em pouco tempo, a Difusora passou a fazer parte do cotidiano dos guarapuavanos. O ex-diretor conta que no início os equipamentos eram muito simples. Porém, a equipe fazia o possível para satisfazer seu público. Ele comenta que foi pessoalmente até São Paulo e comprou dois mil discos de diversos gêneros para a discoteca da rádio. Orgulhoso, acrescenta: “A primeira voz que foi ao ar por uma rádio em Guarapuava é esta que você está ouvindo agora”.
A Difusora de Guarapuava nasceu no auge do rádio em todo país. Por esse motivo, logo de cara já obteve sucesso de audiência. Todas as pessoas da região sintonizavam na ZYP4, fosse para ouvir recados, notícias, músicas ou anúncios publicitários. “O rádio, naquele período, ia muito além de um simples veículo de comunicação. Era os olhos das pessoas ao que elas não podiam ver”, acrescenta Küster.

A notícia falada
Os programas jornalísticos interessavam muito à todos os guarapuavanos. Era de extrema importância ouvir o noticiário local, ao qual era dada prioridade na rádio. Este fato decorria em razão da precariedade no recebimento das notícias nacionais, que geralmente provinham das grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Algumas vezes demoravam mais de duas semanas para chegarem até Guarapuava.
Além dos acontecimentos da região, eram também anunciados óbitos, aniversários e recados com os mais variados conteúdos. A cidade parava para ouvir o noticiário, que ia ao ar em um jornal ao meio-dia, o principal informativo diário. O rádio era a forma de manter o contato com o resto do mundo, mesmo morando no interior.
Outro ponto importante do jornalismo radiofônico em Guarapuava era a narração dos jogos de futebol, prioritariamente dos times locais. Os torcedores, em sua maioria homens, não desgrudavam do aparelho durante a transmissão das partidas. A entonação emocionante e rápida, típica das narrações futebolísticas via rádio, era feita pelo locutor Leomar Kamisnki. O aposentado Nelson Abreu conta que, quando não podia ir até o estádio, acompanhava os jogos pelo rádio. “O futebol da cidade na década de 1950 era muito mais movimentado do que hoje. Os times tinham mais destaque no Estado”, acrescenta Abreu. Os principais times de Guarapuava naquele período eram o Grêmio Esportivo do Oeste, Madeirite, Guairacá, Danúbio e o Batel.

A antiga moda jovem
A Difusora contava com um conteúdo bastante variado. Havia uma série de programas destinados ao público infantil, que faziam a alegria dos pequenos. Um dos principais era o Clube Mirim, um show de calouros, em que muitas crianças de Guarapuava participavam, sempre nos domingos de manhã. O prêmio a quem cantasse melhor eram doces e, para os ganhadores, era mais do que suficiente. Este era o caso de Laura Petruski, dona de casa hoje com 67 anos de idade, que participava do programa quase toda semana. Ela comenta que contava os dias para que chegasse domingo e pudesse cantar no Clube Mirim. “Quando estava no palco, eu me sentia uma artista de verdade. Era uma satisfação saber que minha voz estava sendo ouvida por todos no rádio”, conta Laura. E, saudosa, lembra: “Quando cresci, ficou mais complicado. A juventude era vista como transviada naquela época, exatamente como é agora. Muitas vezes meu pai não deixava eu ouvir a rádio e nem ir aos programas de auditório. Para ele, eu só queria namorar”.
Algum tempo depois, grande parte da programação passou a ser destinada aos programas de música, principalmente para o público jovem. Em plenos “anos dourados” e ascensão do rock’n roll, o rádio era tido como um meio para novas descobertas musicais, o que impulsionava a indústria fonográfica. A garotada ouvia o que estava fazendo sucesso e ia logo comprar os LP’s. Alguns dos cantores e bandas mais ouvidas pela juventude daquele período eram Elvis Presley, The Beatles, Little Richards, Paul Anka e, é claro, os sucessos da Jovem Guarda.
É importante lembrar que a Difusora permitia a interação dos ouvintes com a rádio. A partir de cartas e, mais tarde, telefonemas, era possível pedir músicas e dedicá-las a outras pessoas, característica muito marcante das rádios até hoje. Uma das locutoras que comandava um atrativo musical para os jovens era Veneza Manete Góes. A aposentada Cacilda de Oliveira conta que era fã assídua desta radialista. “Eu pedia músicas e mandava cartas com freqüência. Era meu programa favorito”, ressalta.

Programas tradicionais
Algo que marcou a era de ouro do rádio tanto em Guarapuava, quanto no resto do país, foram as radionovelas. A primeira e mais importante de todas foi, sem dúvidas, Direito de Nascer, que era transmitida pela Difusora. Para quem ouvia, era exatamente como assistir uma novela na televisão nos dias de hoje. Havia os efeitos de trovões, chuva e até cavalos galopando. Era diversão para toda família, principalmente às mulheres, que consistiam no público principal. Laura Petruski também comenta que era muito fã da radionovela. “Era como se eu visse a personagem chorar em minha fantasia, então eu chorava também”, relembra.
Outra atração de importância para os guarapuavanos naquela época (e que vigora ainda hoje) era a oração diária. Em uma cidade notoriamente católica, havia a obrigação de destinar um espaço à fé. Era, de fato, sagrado: todos os dias, às seis da tarde, as famílias rezavam junto com o locutor Nelson Guiné a Hora da Ave Maria.
Para os mais velhos, a atração principal era um programa de músicas românticas, mais suaves, no fim da noite. O Hora da Saudade contava com sucessos de cantores como Frank Sinatra e Tom Jobim, da Bossa Nova.

O que ficou
O avanço tecnológico fez com que o rádio fosse perdendo sua importância no cotidiano das pessoas. A partir do final da década de 1960, com o surgimento da televisão e, posteriormente, da internet, criou-se a possibilidade de ouvir e ver o que estava acontecendo. Houve, também, no que diz respeito ao jornalismo, uma maior rapidez no processo da informação.
Mas para Nelson Abreu, que acompanhou a era de ouro do rádio, a qualidade das transmissões de hoje surpreende. Ele diz que deixa o aparelho ligado no quarto durante a madrugada e no carro, enquanto dirige. Porém, acredita que a estrutura das transmissões radiofônicas de hoje são muito diferentes. “As emissoras AM se aproximam mais do estilo que a rádio tinha no meu tempo. Acredito, também, que a maioria das pessoas que ouvem rádio fielmente agora são as que o acompanharam em seu auge”, opina.
Mas apesar disso tudo, e mesmo distante de seus tempos de glória, ainda há um triunfo para o rádio, que supera qualquer outro meio comunicativo: a capacidade de conduzir o ouvinte ao exercício da imaginação, já que todos os sentidos coexistem em um só.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Nada

A dor é insquestionavelmente mais inspiradora este nada que estou sentido.

Nada de dor
Nada de amor
Nada de verdade
Nada de mentira
Nada de saudade

Liberdade sem propósito deixa um vácuo agoniante. Eu quero estar livre pros meus sonhos e presa aos sentimentos.

Não sei viver vazia.

sábado, 29 de agosto de 2009

São João Maria e a gruta milagrosa

Localizada no Vale do Rio Jordão e cercada por mistérios, a Gruta do Monge é atração turística de Guarapuava e região. Em seu interior há uma porção de objetos ofertados por pessoas que crêem no poder do monge São João Maria. Eles atribuem suas graças ou pedidos à fé que possuem neste profeta. Exemplo destes objetos são muletas, bengalas, terços, imagens sacras, fotografias, flores, entre outros. Há fiéis que se dirigem até a gruta para buscar alento e desabafar suas dores, tendo o monge como um confidente.
Esta gruta, construída em homenagem ao peregrino São João Maria, foi idealizada e pelo ex-prefeito de Guarapuava Nivaldo Krüger, ainda na década de 1970.
Segundo relatos, em uma de suas passagens por Guarapuava, o monge teria abençoado uma fonte de água que nascia ao pé de uma imbuia, no Vale do Rio Jordão. Quando o monge passava pela cidade, costumava acomodar-se exatamente neste local. Com o tempo, a árvore foi cortada, mas o olho d’água permaneceu. “Construí a capela em cima da fonte, correspondendo à crença popular de que o monge era, de fato, milagroso”, ressalta o ex-prefeito.
Muitas pessoas vão até o local para coletar a água “benta” do peregrino. Esta, utilizada como remédio para curar doenças ou feridas. Há crentes que se valem da água para realizar batizados. Nestes casos, durante a cerimônia, a figura do Padre é dispensada, pois acredita-se que São João Maria assume esse papel.
A dona-de-casa Josefa de Lara comenta que vai à gruta com freqüência para buscar a água que considera milagrosa. Ela também já participou de batizados realizados com este líquido e diz acreditar no poder do monge de curar doenças. “Sempre tomo um copo de água tirada da fonte. Sei que dessa forma estou cuidando da minha saúde”, salienta Josefa.
No município da Lapa, localizado no estado do Paraná, São João Maria também possui muitos devotos. Lá existe uma gruta natural dedicada à ele, bastante visitada, que se relaciona com suas passagens pelo local. O peregrino possui, também, uma legião de crentes em vários distritos dos três estados do sul do país.

O poder do Monge

São João Maria era um monge cristão de origem italiana, que levava uma vida peregrina e vivia de donativos das pessoas que acreditavam em sua santidade. Ele pregava o bem, atendia doentes e acreditava-se que era capaz de fazer milagres. Além disso, era identificado como um homem que caminhava de pés descalços, possuía uma barba longa e era bastante severo. O monge tinha por costume abençoar ou amaldiçoar o local por onde passava, conforme era recebido pelas pessoas.
Era comum que São João Maria abençoasse olhos d’água e fontes dos locais por onde caminhava. A estas águas é atribuído um caráter milagroso, de cura. A fonte localizada às margens do rio Jordão, em Guarapuava, é um exemplo disto.
Outro fato importante atribuído ao monge é a sua participação indireta na Guerra do Contestado. Este conflito aconteceu entre a população cabocla dos estados de Santa Catarina e Paraná e o governo estadual e federal. A questão girava em torno de uma região rica em madeira e erva-mate. Foi São João Maria que impulsionou o messianismo da população da época, o que mais tarde influenciou no decorrer dos conflitos. Mais dois monges participaram diretamente dessa guerra, ambos usando codinomes que remetiam ao primeiro: José Maria e José Maria de Santo Agustinho. “Estes eram falsos monges, que diziam ser a ressurreição de São João Maria para ganhar credibilidade diante do povo”, explica ainda Krüger.A morte do monge São João Maria foi oficialmente registrada em 1870, por historiadores. No entanto, devido ao misticismo em torno de sua figura, acredita-se que ele não morreu, e sim “desapareceu” na hora em que lhe foi conveniente.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Desagrado

Sou tempestade em pôr-do-sol
Arco-íris preto e branco
Furacão gentil e brando
Sou mar escuro sem farol

Sou cachoeira longe do rio
Nuvem cinza em lua cheia
Meio-dia e noite inteira
Sou sabiá sem assobio

Sou a espera sem saudade
Mortal na imortalidade
Sou carnaval sem som, nem cor

Sou do tempo, um intervalo
A cegueira em Frida Kahlo
Sou a vida sem amor

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Vão


Meus pensamentos andam literários demais. Eu gosto mais do teatral. Das imagens sendo reproduzidas na minha mente sem que eu precise inventar a projeção dos personagens. De sentir o cheiro dos sonhos. De ouvir as palavras. De olhar nos olhos.
Literatura só é bom pra aprender, distrair e complementar. Quero mais do teatro, que venha para me completar. Quero o silêncio alto das cenas marcantes e dos sorrisos sinceros. Quero cores. Formas. Sentidos. Sentido...
Tenho pensado em muitas frases, muitas palavras, muitas idéias. Estou cheia de parágrafos, vírgulas e pontos. Quero mais falas, mais fatos. Quero a emoção de uma página em branco. Um novo capítulo.
Estou farta deste amontoado de letras limitadas a um ponto final. Quero do teatro as cores e a emoção. E quero da literatura a eternidade. Quero sonhar de olhos abertos.

Sinto falta dos sonhos reais...

Quero menos noite, menos chuva, menos frio e menos nada. Quero tudo sem precisar de nada. Quero ir mais longe para estar mais perto. Preciso sentir o vento em meus pensamentos, o gosto doce dos beijos e a voz branda do amor...
Quero a vida que caiba num livro, a paixão que exceda uma cena de teatro e o amor que dure além de uma poesia.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Jamil e seu pesqueiro no Jardim

No Pesqueiro do Jamil, não tem tempo ruim. Jamil José Pereira, proprietário do local, mantém este pesque-pague há oito anos e dali tira o sustento da sua família. Sempre com um sorriso estampado no rosto, ele conta que seu pesqueiro é conhecido em todo bairro Jardim das Américas, um dos mais carentes da cidade de Guarapuava, no Paraná.

Na alta temporada, que acontece durante o verão, o movimento é considerável. Pessoas de toda a cidade freqüentam o pesque-pague, em especial os moradores do bairro. Jamil comenta que a concorrência na região é bastante significativa. “Há muitos pesqueiros distribuídos pela cidade, mas sempre vem clientes aqui. Para ajudar no sustento, minha família também recebe ajuda do governo Lula”, ressalta.

Já no inverno, o movimento é menor. Alguns peixes, principalmente tilápias, não resistem a baixas temperaturas e Jamil os congela para vender as carnes, ali mesmo no local. Assim, segundo ele, não há tanto prejuízo.

O Pesqueiro do Jamil conta com dois tanques, um de maior e um de menor porte. Nos meses de maior movimento, há cerca de 1300 peixes disponíveis para a pesca, como, por exemplo, carpas e tilápias. E para os pais que querem ir até lá em companhia de suas crianças, é um local bastante agradável, com uma área grande de gramado e até mesmo um balanço.

Jamil, que possui 58 anos de idade, fundou o local em 2001. Antes de construir o pesqueiro, ele trabalhou em uma oficina por muitos anos e se aposentou. Então, decidiu abrir seu próprio negócio. Para tal, resolveu unir o útil ao agradável, já que sempre gostou de pescar. “Sempre recebo clientes e amigos aqui. Eles vêm para assar carne na churrasqueira e jogar conversa fora”, comenta o proprietário. Ele, que é morador do bairro Jardim das Américas, é um exemplo das soluções encontradas pelas pessoas para garantir uma vida melhor, mesmo diante de um cenário de contrastes sociais.

sábado, 1 de agosto de 2009

Carta Infundada

Não te olho nos olhos por medo de transparecer meu sentimento oculto, ao mesmo tempo resplandecente. Evito tua alma por medo de deixar que perceba o quão é especial e único. Restrinjo minha fala para não te deixar ver em minhas palavras um "eu te amo" subentendido.
Eu me perco longe de ti, sinto falta de mim mesma. Meu espírito voa longe, cai no mundo dos sonhos, em que eu sou verdade, em que nós somos um só. Bendito mundo esse, o qual adoça minha essência mais amarga, apenas por poder te sentir, beijar-te em poesia.
Não te culpo por relevar, distrair-se. Sei que acredita que o amor não se pôs em mim, não está em nós. Esse amor tão puro que procuras, está nos olhos de quem quer vê-lo, amor. Quem sabe tu queiras, porquanto não possas. Embora tão triste, prometo esperar. Tu sabes, tempo é invenção. Eu sou eterna, mas amor também é e eu estarei aqui, mergulhada num mundo longe e perto, vivendo em ti, sem tê-lo. Prefiro ser um sonho vivo a viver uma realidade em que o amor fora morto por motivos fúteis. Sonho, este, que enaltece a alma.
É maior que pensas, digno demais pra ti que me fizeste sofrer. Mas mesmo assim o preservo estagno dentro de mim. Tu és ainda parte do que me faz forte. Enquanto estiveres aqui tão vivo quanto eu, meu amor estará nas mesmas dimensões, numa espera paciente. Deixo as janelas abertas para que possa entrar, meu amor.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Último beijo

Quem me dera se consiguisse fazer da minha vida uma melodia dançante, mesmo com a poesia triste que a compõe, tal como na música "Last Kiss" do Pearl Jam. O tema é a a morte, sendo que ao ouví-la tenho vontade de cantar com todo pulmão e vibrar meu corpo naquele ritmo convidativo. Talvez essa seja uma virtude nobre demais para consciências tão narcisistas, como a minha. Acabo transformando qualquer mínimo sentimento de solidão em um drama trágico de Shakespeare. Acabo esquecendo que é possível dançar mesmo a mais triste das poesias e que os momentos mais sublimes discorrem-se em silêncio. Acabo por acabar-me em sonhos mal sonhados, pensamentos mal pensados e abstratos demais pra um coração tão clássico. Clássico e com uma pegada de rock'n roll, samba e bossa nova.

Sabe do que mais? Que seja aquele, então, o útlimo beijo. Assim posso, ao menos, transformar o momento em dança no meu pensamento. Afinal, verdade é aquilo em que acredito, não o que me dizem.

sábado, 11 de julho de 2009

Callípolis é possível?

Apesar de parecer ultrapassado, maçante e piegas, a reflexão sobre como viver melhor já data de muitos séculos. Desde quando os antepassados pensavam uma sociedade mais humana, em que todos tivessem o mínimo necessário para viver em harmonia. Os pensadores, como Platão, já chegaram a limitar o numero de pessoas para uma cidade que almeja ordem e igualdade. Hoje, pois, é preciso buscar essa harmonia numa sociedade mundial que já soma mais de seis bilhões de habitantes. Estes, distribuídos em diversas nações, várias religiões e inúmeras culturas. Todas submetidas a legislações que se contrapõem à medida que o mundo se globaliza.
Já houve períodos na história em que todas as regras da sociedade estavam estruturadas nos dogmas religiosos. Códigos de ética eram impostos, dizendo que a boa conduta só existia diante do medo da punição do “Ser Supremo”. Este, por sua vez, analisado sempre como tirano e rigoroso no julgamento. As pessoas acreditavam que o mundo melhor só viria após a morte, deixando para trás uma série de privações e sofrimentos necessários para a purificação de uma alma que já nascera contaminada. Nesse período, porém, alguns filósofos já começaram a desenvolver teorias que demonstravam maneiras para viver melhor.
Séculos mais tarde, após tempos de escuridão, repressão e conflitos entre potências, as perspectivas para um mundo melhor cresceram. De fato esteve-se a beira de uma Terceira Guerra Mundial. No entanto, ela só foi adiada ou evitada porque os seres humanos começaram a enxergar o planeta como a única fonte de energia para se viver bem. Tirou-se o foco da busca pelo paraíso após a morte para encontrá-lo aqui mesmo.
O mundo se tornou o centro das atenções, unindo várias nações e as incentivando a buscar políticas de convivência entre humanos e a natureza. Incluiu-se no código de ética muito mais do comportamento humano política e ecologicamente correto do que algo que comparasse os homens a deuses.
Os seres humanos são perecíveis e finitos e precisam pensar como tal. O diferencial está na existência das três virtudes mencionadas por Platão na cidade ideal; sabedoria, força e moderação.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Apeteço

Esperei-te
Em cada raiar de sol
Ao passo da dança sem música
Embalada ao som do silêncio

Esperei-te
No tempo palpável aos sonhos
Infinito ao coração
Estreito à realidade

Esperei-te
Em suas desventuras
Insanas incertezas
Desencontro de consciências

Esperei-te
Enquanto dissolvia-se no horizonte
Aquém de meu bem-querer
Ao sol de raios cansados

Esqueci-te.

Lucy no céu com palavras

Um blog sem pretensões, estreito a uma forma midiática de registrar idéias num arquivo mais concreto que a mente humana.
Eu sou Lucy, estudante de jornalismo e sem diamantes, mas repleta de palavras e pensamentos que me levam ao céu todos os dias.
E são estes pensamentos, traduzidos sob formas de palavras, que procurarei retratar aqui, coloridos pelo azul do céu que há dentro de mim, seja em dias de sol ou tempestade.

Elevo-me pela pureza dos sonhos que permitem voar de olhos fechados.