terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fui

Todos os dias me despeço de mim mesma. Me despeço de quem fui. De quem sou. E não tenho tempo de dizer um "oi" para quem serei, porque quando vejo, já fui.

Nesse ano, essa sequência ininterrupta de despedidas veio mais intensa, devastadora. Tive que me despedir não apenas de quem fui, mas também de pessoas que me fizeram ser. De momentos que mudaram meu jeito de ser.

Nos últimos vinte e um finais de ano com os quais me deparei, o ano seguinte era apenas uma continuidade, como água de rio num dia de brisa mansa. Depois do primeiro ano, veio o segundo. Depois do segundo, o terceiro. Depois do terceiro, o quarto. E depois do quarto? Quem sabe correnteza, quem sabe devaneio, quem sabe?

Essa incógnita tão palpável e, ao mesmo tempo, abstrata, carrega consigo um misto de medo, curiosidade e uma energia inexplicável. Acho que essa incoerência de sensações fervilha porque ainda não sei quem vou ser daqui pra frente. Sei dos meus sonhos, mas não sei dos meus planos. Sei o que quero, mas não sei o que sinto.

Um ciclo que se fecha, mas que continua em circulação, compondo meus eus. Um ciclo que permanecerá em qualquer novidade em mim. 

O que fui sempre fará parte do que sou.

A vida é passado. Passado recente, distante e futuro.
Espero que o amanhã sopre ventos tão bons quanto o dos ontens que me trouxeram até aqui.

domingo, 18 de novembro de 2012

Dores

Toda dor tem um fundo de morte
Do outro, do dia, do instante
No fundo a vida é uma sucessão de coisas que morrem
E a morte de um eu, de um sou
É uma das mais difíceis de encarar

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Não ser

Se imortais
Os homens fossem
A existência
Seria um cárcere

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ponto final...

O problema do fim é que ele não é exclusivo, único e absoluto. Todo fim é um sequência dolorida de pequenas e grandes despedidas. O adeus ao sentimento, ao beijo, ao cheiro, ao jeito, ao chocolate preferido e o sorriso angelical. E essas coisas menores que doem ainda mais fundo, porque são simples, puras e naturais.

Nada é mais difícil do que se despedir. Acho que eu nunca vou estar pronta pra dizer adeus pra nada e nem ninguém.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Interpretante


Interpreto o poema de Camões
A ironia no sorriso
O mau gosto do exagero
E o perigo do granizo

Interpreto o dizer das entrelinhas
O sabor do alho e do caju
O calor no sol profundo
E a traição de Capitu

Interpreto a verdade em uma lágrima
O tom de cada vermelho
A maciez dos lençóis de seda
E a imagem por entre o espelho

Interpreto um infinito de sonhos
Infinito de sabores
De mundos
Cores

Só não sou capaz de interpretar
Essa incoerência de sentimentos em não e sim
Mesmo todos eles partindo
De uma essência pura contida dentro de mim

domingo, 30 de setembro de 2012

Poetisa

Em poesia, a prosa é um verso
A lua é de prata, a flor é de vento
O canto é um conto
O amor, um lamento

Em poesia, o sino emudece
A rima é o solo, a palavra é semente
Os arcos tem íris
O céu é real, o infinito não mente

Em poesia, o sonho acontece
A estrada é de flores, o caminho é sereno
O som sintoniza
A alma é pura e o espírito, pleno

Em poesia, nós somos verdade
Em chuva, sol, em dia e breu
Nos pensamentos e abstração
Eu sou tua, você é meu

Mas só
Em poesia

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sorriso líquido

Um dia pleno é aquele em que uma lágrima escorre por felicidade.

Uma lágrima que tem sua nascente no mais intenso e simples dos conceitos: o amor. Amor que se dá às causas, aos amores, ao time de futebol, à emoção de um final feliz (por mais que não seja o seu), à ideologias ou até mesmo (e primordialmente) a si próprio. 

Uma lágrima que escorre macia e doce. Desafia a essência naturalmente salgada que possui. Intensifica o sorriso, confirma-o, dignifica-o. 

É possível sorrir só por disfarce, mesmo que dentro de nós haja uma tempestade cinza. Mas uma lágrima é capaz de colorir e abrandar o mais enérgico dos temporais, o que prova a verdade do sorriso. 

Quimicamente falando, uma lágrima de felicidade nada mais é do que um sorriso em estado líquido.

Sentimentalmente falando, uma lágrima de felicidade é o ponto final perfeito para uma história  de amor sem fim.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lágrimas

Você diz não chorar nunca
Nem antes
Nem hoje
Nem depois

Eu admito que choro
Por qualquer momento
Qualquer vestígio
Em pranto, em sorriso

Mas ambos já choramos
Por vestígios
De nós dois

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Estável

E se a plenitude não for o bastante?
Então eu me reinvento sempre que for preciso.

domingo, 16 de setembro de 2012

Condicional

O planeta só é mundo
Se houver vida pra abrigar
A vida só é sentida
Se há sonhos pra sonhar
O sonho só se cria
Se há um futuro para avistar
O futuro só abarca
Se há passados para firmar
Os passados só preenchem
Se há saudade para ficar
A saudade só é boa
Se tem hora pra acabar

sábado, 15 de setembro de 2012

Momentos

Um segundo
Três minutos
Sete dias
Onze meses

O sol morre
E ressucita
A Terra dança
Em sintonia

Números pra organizar
Máquinas pra cronometrar
Momentos monitorados
Em relógios apressados

De que vale tudo isso?
24 horas no dia
30 dias no mês
12 meses no ano

Mas o tempo com você
No mais breve dos segundos
É infinito

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Destinos do destino (ou do acaso)

Um caminho é seguro, sem buracos, sem pedras, quase como viajar em pista dupla de Guarapuava até a praia pela 277 em uma segunda feira gelada de julho. A segurança de apenas seguir em frente, com uma paisagem corrida pelas laterais, a qual mal pode ser observada. Um destino certo, uma estrada morna, a certeza de um porto seguro pra abarcar. Não nego que o destino seja bonito, agradável e cômodo. Mas e quem disse que essa monotonia combina comigo?


O outro caminho é nebuloso, limpo e suave, mas também cheio de desníveis. Abriga uma paisagem linda, que pode ser observada com calma, já que as curvas não comportam um trajeto em alta velocidade. Um caminho para ser apreciado. Só que, quando chove, fica perigoso. À noite, a linda paisagem se torna assustadora, cheia de fantasmas do passado que me assombram os olhos. Só que o frio na barriga das curvas me encharca de adrenalina. Me faz ter vontade de continuar caminhando, só pra descobrir a próxima paisagem de um roteiro sem destino certo. Isso me inspira, me faz vontade de cantar, escrever, de pular em casa sozinha na explosão do refrão de uma música bonita.

Um novo destino pelo mesmo caminho. Quem sabe? Um destino de incertezas, mas com o doce sabor da imaginação e dos sonhos.


PR 466 - Trajeto Guarapuava-Pitanga (Foto: Luciana Grande)


segunda-feira, 19 de março de 2012

parafraseando-me

Por favor, não vá embora
Fique aqui, more em mim
Desmorone esse abismo
A menor distância que existe
É a de um sorriso

E onde nosso riso foi parar?

No mais, amor, só quero dormir
Já que a saudade e sua vontade nos afastam
Sonhando eu te guardo dentro de mim