Nesse ano, essa sequência ininterrupta de despedidas veio
mais intensa, devastadora. Tive que me despedir não apenas de quem fui, mas
também de pessoas que me fizeram ser. De momentos que mudaram meu jeito de ser.
Nos últimos vinte e um finais de ano com os quais me
deparei, o ano seguinte era apenas uma continuidade, como água de rio num dia
de brisa mansa. Depois do primeiro ano, veio o segundo. Depois do segundo, o
terceiro. Depois do terceiro, o quarto. E depois do quarto? Quem sabe correnteza,
quem sabe devaneio, quem sabe?
Essa incógnita tão palpável e, ao mesmo tempo, abstrata,
carrega consigo um misto de medo, curiosidade e uma energia inexplicável. Acho
que essa incoerência de sensações fervilha porque ainda não sei quem vou
ser daqui pra frente. Sei dos meus sonhos, mas não sei dos meus planos. Sei o que quero, mas não
sei o que sinto.
Um ciclo que se fecha, mas que continua em circulação,
compondo meus eus. Um ciclo que permanecerá em qualquer novidade em mim.
O que fui sempre fará parte do que sou.
A vida é passado. Passado recente, distante e futuro.
Espero que o amanhã sopre ventos tão bons quanto o dos ontens que me trouxeram até aqui.