terça-feira, 29 de setembro de 2009

Comunicação

O império da voz
Há mais de cinco décadas, no auge de sua difusão, o rádio contava com uma estrutura peculiar e exercia um papel importante para a sociedade guarapuavana

Sobre sua base ergueram-se estruturas muito mais complexas de comunicação. Ao som cru foi adicionada a imagem que glorificava a televisão. O tempo passou, a tecnologia evoluiu e o rádio acabou se tornando um veículo ultrapassado, principalmente para as novas gerações. No entanto, já diria o ditado que “quem é rei nunca perde a majestade”. Pelo menos para aqueles que presenciaram o seu auge, aproximadamente entre as décadas de 1930 e 1960, o aparelho de rádio ainda é peça primordial dentro de suas residências.
No Brasil, o rádio teve início em meados da década de 1920. No entanto, em Guarapuava a primeira emissora radiofônica só foi fundada quase 30 anos mais tarde. Seu nome era Rádio Difusora de Guarapuava, ZYP4, 1590 kilociclos, AM. Embora não permanecesse 24 horas no ar, tinha programas variados que satisfaziam os interesses desde crianças até pessoas mais velhas. O sucesso era tanto que muitos estabelecimentos comerciais deixavam o aparelho ligado, com volume considerável, para atrair a clientela. Já os locutores eram considerados ícones para os guarapuavanos da época, dignos de autógrafos, caso fossem reconhecidos por seus ouvintes na rua.
O rádio era, também, um instrumento de utilidade pública. As mensagens dos ouvintes ligavam a cidade com o interior e o restante da região. Havia uma comunicação entre parentes, amigos ou toda uma comunidade. O relacionamento da rádio com os ouvintes consistia num mecanismo importante para a sociedade da época.

No ar, a difusão
Fundada em 1947, a Rádio Difusora de Guarapuava foi um marco para a comunicação para todas as localidades que atingia. Segundo Renato Küster, um dos fundadores e diretor da rádio na época, seu surgimento foi resultado, em um primeiro momento, de ideais políticos, já que a equipe fundadora era amiga do então candidato a prefeito da cidade, Sebastião Loures Bastos. No entanto, apesar desta “forcinha”, ele não venceu as eleições daquele ano.
Em pouco tempo, a Difusora passou a fazer parte do cotidiano dos guarapuavanos. O ex-diretor conta que no início os equipamentos eram muito simples. Porém, a equipe fazia o possível para satisfazer seu público. Ele comenta que foi pessoalmente até São Paulo e comprou dois mil discos de diversos gêneros para a discoteca da rádio. Orgulhoso, acrescenta: “A primeira voz que foi ao ar por uma rádio em Guarapuava é esta que você está ouvindo agora”.
A Difusora de Guarapuava nasceu no auge do rádio em todo país. Por esse motivo, logo de cara já obteve sucesso de audiência. Todas as pessoas da região sintonizavam na ZYP4, fosse para ouvir recados, notícias, músicas ou anúncios publicitários. “O rádio, naquele período, ia muito além de um simples veículo de comunicação. Era os olhos das pessoas ao que elas não podiam ver”, acrescenta Küster.

A notícia falada
Os programas jornalísticos interessavam muito à todos os guarapuavanos. Era de extrema importância ouvir o noticiário local, ao qual era dada prioridade na rádio. Este fato decorria em razão da precariedade no recebimento das notícias nacionais, que geralmente provinham das grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Algumas vezes demoravam mais de duas semanas para chegarem até Guarapuava.
Além dos acontecimentos da região, eram também anunciados óbitos, aniversários e recados com os mais variados conteúdos. A cidade parava para ouvir o noticiário, que ia ao ar em um jornal ao meio-dia, o principal informativo diário. O rádio era a forma de manter o contato com o resto do mundo, mesmo morando no interior.
Outro ponto importante do jornalismo radiofônico em Guarapuava era a narração dos jogos de futebol, prioritariamente dos times locais. Os torcedores, em sua maioria homens, não desgrudavam do aparelho durante a transmissão das partidas. A entonação emocionante e rápida, típica das narrações futebolísticas via rádio, era feita pelo locutor Leomar Kamisnki. O aposentado Nelson Abreu conta que, quando não podia ir até o estádio, acompanhava os jogos pelo rádio. “O futebol da cidade na década de 1950 era muito mais movimentado do que hoje. Os times tinham mais destaque no Estado”, acrescenta Abreu. Os principais times de Guarapuava naquele período eram o Grêmio Esportivo do Oeste, Madeirite, Guairacá, Danúbio e o Batel.

A antiga moda jovem
A Difusora contava com um conteúdo bastante variado. Havia uma série de programas destinados ao público infantil, que faziam a alegria dos pequenos. Um dos principais era o Clube Mirim, um show de calouros, em que muitas crianças de Guarapuava participavam, sempre nos domingos de manhã. O prêmio a quem cantasse melhor eram doces e, para os ganhadores, era mais do que suficiente. Este era o caso de Laura Petruski, dona de casa hoje com 67 anos de idade, que participava do programa quase toda semana. Ela comenta que contava os dias para que chegasse domingo e pudesse cantar no Clube Mirim. “Quando estava no palco, eu me sentia uma artista de verdade. Era uma satisfação saber que minha voz estava sendo ouvida por todos no rádio”, conta Laura. E, saudosa, lembra: “Quando cresci, ficou mais complicado. A juventude era vista como transviada naquela época, exatamente como é agora. Muitas vezes meu pai não deixava eu ouvir a rádio e nem ir aos programas de auditório. Para ele, eu só queria namorar”.
Algum tempo depois, grande parte da programação passou a ser destinada aos programas de música, principalmente para o público jovem. Em plenos “anos dourados” e ascensão do rock’n roll, o rádio era tido como um meio para novas descobertas musicais, o que impulsionava a indústria fonográfica. A garotada ouvia o que estava fazendo sucesso e ia logo comprar os LP’s. Alguns dos cantores e bandas mais ouvidas pela juventude daquele período eram Elvis Presley, The Beatles, Little Richards, Paul Anka e, é claro, os sucessos da Jovem Guarda.
É importante lembrar que a Difusora permitia a interação dos ouvintes com a rádio. A partir de cartas e, mais tarde, telefonemas, era possível pedir músicas e dedicá-las a outras pessoas, característica muito marcante das rádios até hoje. Uma das locutoras que comandava um atrativo musical para os jovens era Veneza Manete Góes. A aposentada Cacilda de Oliveira conta que era fã assídua desta radialista. “Eu pedia músicas e mandava cartas com freqüência. Era meu programa favorito”, ressalta.

Programas tradicionais
Algo que marcou a era de ouro do rádio tanto em Guarapuava, quanto no resto do país, foram as radionovelas. A primeira e mais importante de todas foi, sem dúvidas, Direito de Nascer, que era transmitida pela Difusora. Para quem ouvia, era exatamente como assistir uma novela na televisão nos dias de hoje. Havia os efeitos de trovões, chuva e até cavalos galopando. Era diversão para toda família, principalmente às mulheres, que consistiam no público principal. Laura Petruski também comenta que era muito fã da radionovela. “Era como se eu visse a personagem chorar em minha fantasia, então eu chorava também”, relembra.
Outra atração de importância para os guarapuavanos naquela época (e que vigora ainda hoje) era a oração diária. Em uma cidade notoriamente católica, havia a obrigação de destinar um espaço à fé. Era, de fato, sagrado: todos os dias, às seis da tarde, as famílias rezavam junto com o locutor Nelson Guiné a Hora da Ave Maria.
Para os mais velhos, a atração principal era um programa de músicas românticas, mais suaves, no fim da noite. O Hora da Saudade contava com sucessos de cantores como Frank Sinatra e Tom Jobim, da Bossa Nova.

O que ficou
O avanço tecnológico fez com que o rádio fosse perdendo sua importância no cotidiano das pessoas. A partir do final da década de 1960, com o surgimento da televisão e, posteriormente, da internet, criou-se a possibilidade de ouvir e ver o que estava acontecendo. Houve, também, no que diz respeito ao jornalismo, uma maior rapidez no processo da informação.
Mas para Nelson Abreu, que acompanhou a era de ouro do rádio, a qualidade das transmissões de hoje surpreende. Ele diz que deixa o aparelho ligado no quarto durante a madrugada e no carro, enquanto dirige. Porém, acredita que a estrutura das transmissões radiofônicas de hoje são muito diferentes. “As emissoras AM se aproximam mais do estilo que a rádio tinha no meu tempo. Acredito, também, que a maioria das pessoas que ouvem rádio fielmente agora são as que o acompanharam em seu auge”, opina.
Mas apesar disso tudo, e mesmo distante de seus tempos de glória, ainda há um triunfo para o rádio, que supera qualquer outro meio comunicativo: a capacidade de conduzir o ouvinte ao exercício da imaginação, já que todos os sentidos coexistem em um só.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Nada

A dor é insquestionavelmente mais inspiradora este nada que estou sentido.

Nada de dor
Nada de amor
Nada de verdade
Nada de mentira
Nada de saudade

Liberdade sem propósito deixa um vácuo agoniante. Eu quero estar livre pros meus sonhos e presa aos sentimentos.

Não sei viver vazia.